Tento pegar o chinelo, cutuco com o pé embaixo da cama, mas não acho. Todo mundo lá embaixo, o bar da minha mãe tá fechado, cinco homens, é a Dona Zica, a Rota
é dia. meio da tarde. os raios entram pela janela entreaberta. o homem nunca soube onde o sol nasce. tampouco mudaria algo. no quarto, um pouco de poeira flutua no feixe de luz.
Pela rua de trás sobem o desespero, a dor e o medo. da rua de trás ecoam estranhos ruídos, gritos, sirenes, disparos e lamentos. muitos lamentos de mães, de pais, de esposas, de avós e de irmãos
Depois enlouquecer com as memórias de contato. Contatos viram euforia atravessando noites de medo e insegurança; Parar tudo, para viver de novo; Negar o prazer, continuar a “engolir baldes de merda”. Desejo que se reprime. Cumplicidade com a própria impotência de agir
"Faz assim: por que você não pensa em vender uns doces, sei lá, fazer algo melhor com sua vida do que pedir?" Disse um dos caras. "Deixa o homem, porra!" Falou o Donato, meio alterado. "Mas a gente só tá tentando dizer que ele devia revolucionar a vida dele."
O cobrador, que aparenta estar na fronteira da aposentadoria, faz algum esforço para argumentar porque Emerson Sheik é melhor do que Dudu, mas a conversa com o motorista logo abandona sua espontaneidade e volta a ser o que dela se esperava: uma espécie de comemoração à prisão de Lula
Andando pelo viaduto do Chá numa quinta-feira pela manhã, pisei num manuscrito surrado escrito à pena. Era um pequeno dicionário. Na contracapa, no canto inferior esquerdo, sobre linhas abaixo de um "se encontrado favor devolver a", permanecia também borrado um grande nome: Ubaldo Domínguez Inffamio de Marinho