"Vai querer? Agora é 10, quando começar a chover vai ser 20". Os executivos do Banco Safra passavam sem olhar para o vendedor, que pendurava os adereços em seu corpo, como pássaros ocupando os poleiros. No jornal de um dos assalariados do banco, uma das manchetes da capa: "Docentes dos EUA criticam cerco a cursos que falam em golpe."
Depois enlouquecer com as memórias de contato. Contatos viram euforia atravessando noites de medo e insegurança; Parar tudo, para viver de novo; Negar o prazer, continuar a “engolir baldes de merda”. Desejo que se reprime. Cumplicidade com a própria impotência de agir
"Faz assim: por que você não pensa em vender uns doces, sei lá, fazer algo melhor com sua vida do que pedir?" Disse um dos caras. "Deixa o homem, porra!" Falou o Donato, meio alterado. "Mas a gente só tá tentando dizer que ele devia revolucionar a vida dele."
Pela rua de trás sobem o desespero, a dor e o medo. da rua de trás ecoam estranhos ruídos, gritos, sirenes, disparos e lamentos. muitos lamentos de mães, de pais, de esposas, de avós e de irmãos
Tento pegar o chinelo, cutuco com o pé embaixo da cama, mas não acho. Todo mundo lá embaixo, o bar da minha mãe tá fechado, cinco homens, é a Dona Zica, a Rota
é dia. meio da tarde. os raios entram pela janela entreaberta. o homem nunca soube onde o sol nasce. tampouco mudaria algo. no quarto, um pouco de poeira flutua no feixe de luz.
eu tenho um maldito cancro social que me faz odiar positivistas e neoliberais eu tive uma maldita doença que me faz odiar propaganda de creme dental e, principalmente, quem dá certo