Ilustração: John Ledger

 

“É proibido sentar no chão, por favor, colabore. Também é proibido andar de skate, patins ou similares, fumar e consumir bebida alcóolica. A Companhia do Metropolitano de São Paulo agradece.”

Desci na estação Consolação e peguei a saída da Augusta, sentido centro. Ao lado da estação, um vendedor otimista tentava emplacar seus guarda-chuvas aos transeuntes empapados pelo sol.

“Vai querer? Agora é 10, quando começar a chover vai ser 20”. Os executivos do Banco Safra passavam sem olhar para o vendedor, que pendurava os adereços em seu corpo, como pássaros ocupando os poleiros.

No jornal de um dos assalariados do banco, uma das manchetes da capa: Docentes dos EUA criticam cerco a cursos que falam em golpe. Mais ao lado, paralela a foto principal, Só a ação da polícia não basta contra a violência, afirma interventor no Rio.

Dois quarteirões pra baixo, entro na loja de discos. Não tinha dinheiro, queria um emprego. Havia uma placa. “2º grau completo, com ou sem experiência”, letras vermelhas e sublinhadas.

“Estou interessado na vaga”. A mulher do caixa, loira, de bata roxa com uma mandala desenhada e pontinhos brilhantes, “Você mora perto?” “Moro sim, 2 estações daqui” “Não, não, perto mesmo. Tem que vir trabalhar a pé, não tá dando pra pagar condução”

Não, não moro perto mesmo. Subindo, voltando, um senhor tenta empurrar um “Teatro de Sabbath” surrado a um estudante por trinta contos (estava na frente de uma universidade). Nenhum ventriloquismo vale trinta merréis.

Em frente à estação, o homem do guarda-chuva não se encontrava mais. Nem eu o encontrava nem ele se encontrava. Sentei no chão, diante das catracas, esperando os minutos necessários para o cartão voltar a funcionar. Um funcionário falava no alto-falante frases secas que não prestei atenção.

Tatuada nas coxas, uma mulher sentada no chão olha pra mim, como se estivéssemos conversando. “Quero ver eles me tirarem daqui. Tô esperando o segurança vir me tirar daqui a força.” Fingi que sorri.

“Esses caras são foda. Agora pouco passou um homem aí e mexeu comigo, ficou me importunando. Assédio foda-se né? Cadê o filha da puta do guardinha? Agora, sentar no chão é pecado”

A voz solene voltou a cospir no microfone. “A Companhia do Metropolitano de São Paulo agradece”.

Mador Confuhamade é escritor e idealizador da Saci.

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