Ilustração: Renato Mutt

jornalismo e literatura têm lado. Não à toa nos colocamos, ou somos colocados, como um veículo alternativo por quem bebe do cantil da tradição anódina da imprensa brasileira; padrões e patrões não nos sufocam a ponto de impedir-nos de declararmos nossas posições.

Por 27 anos a democracia brasileira foi construída aos moldes de um tripartidarismo cancerígeno, mas que nunca ensaiou uma volta ao fúnebre mundo dos atos institucionais. No mais, essa democracia sempre trabalhou como uma máquina de aniquilar pobres, negros e indígenas – como todas as demais do planeta – mas envernizada com a pluralidade e com a permissão do contraditório.

Se temos grupos representando os interesses da hemorragia cultural, o expurgo dos povos originários e a transformação dos nossos milhares de quilômetros quadrados em um grande pasto, temos grupos defendendo os interesses dos trabalhadores, das pautas identitárias, do movimento negro e quilombola, dos LGBTQI+, dos subrepresentados nos últimos cinco séculos. Queiramos ou não, foi o processo democrático que garantiu o contraditório. E, paralelamente, esse mesmo processo que está garantindo a o retorno do fascismo por meio das urnas.

Se os responsáveis foram o sequestro do Estado pelos neoliberalismo “responsável”, as traições programáticas que permearam os últimos quatro pleitos ou o tripé partidário, pouco importa. Nos resguardamos dessa discussão desde a redemocratização (mais um motivo a ser numerado para a ascensão da extrema-direita), e agora colhemos as frutas bichadas. Se antes o fascismo morava no ovo, agora ele é uma larva na maçã: pequena, mas podre e com um poderio, quase um feitiço, de se mostrar inofensivo para milhões de brasileiros.

Não há leviandade em apontar o retorno das ideologias sucumbidas em 45, não há também qualquer intenção de mostrar que aquele sistema vai ser recortado e colado na contemporaneidade. Há sim a metamorfose, a transfiguração da defesa de campos de concentração para a defesa da tortura institucionalizada, para a defesa da família tradicional caucasiana, para a criminalização de movimentos sociais, para o racismo afrontoso contra negros e indígenas, para o massacre dos trabalhadores.

O programa econômico dos especuladores, antes tímido e dentro do armário da social-democracia, adquiriu vida própria e não responde mais às ordens do ventríloquo. Antes mero deslumbro de carecas (o “fenômeno” contemporâneo Bolsonaro foi alçado por eles em 2011), o nazi-fascismo andou em direção ao centro e deu um abraço efusivo no Consenso de Washington. Viram que existem necessidades para manter determinadas regras. Somos hoje um laboratório do deus-mercado.

O fascismo tem nome e sobrenome. Todos sabem, não precisamos repetir. Se esse nome te cativa, seu lugar não é aqui.

Çá-aci

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